terça-feira, 10 de março de 2015

Água, vital para nossa existência.

Moramos (eu e filhos) numa região de manacial, chama APA do Iraí (acho que é isso). Nosso bairro chama-se Timbú, localizado no município de Campina Grande do Sul, divisa com Colombo (Paraná).
Em nossa terra existem algumas nascentes, e todas vão para um mesmo riacho que vai alimentar o rio Timbú, que por sua vez vai desaguar na represa que fica entre os municípios de Quatro Barras e Piraquara.
Para vc manter um nível de água, é importante a quantidade de chuva (índice pluviométrico), a qualidade dessa chuva (não pode ser de impacto forte, pois leva sedimento para os rios e causa erosão) que preferencialmente deve ser leve e constante, assim como deve haver cobertura vegetal, principalmente árvores que vão reter essa água, alimentando os lençóis freáticos ou aquíferos.

Ali (à margem da represa) tem um mirante, aonde é proibido entrar; não para um grupinho de pessoas especiais, moradores e trabalhadores de um hospital psiquiátrico que fica na entrada do parque.
Quem "administra" a represa é a Sanepar, onde os governantes do estado do Paraná é que mandam.
Privatizada, poderíamos pagar um ingresso para ver o local e ajudar na sua manutenção. Ao contrário disso, não podemos entrar e o local abandonado. Os malandros entram pelo mato. Só tem um vigia no portão principal, o qual conseguimos despistar facilmente, entrando por esse portão. Não deveria ser assim. Ao invés de um vigia terceirizado, poderia ter recepcionistas dando as boas vindas, distribuindo folders sobre como usar a água, etc... Poderia ter prática de esportes não poluentes e eventos.
Preocupação com poluir a água... Ora, é muito patético querer guardar a margem da represa, sendo que aqui, próximo dela, animais mortos são jogados nos ribeirões, lixo e outras coisas mais que nem sabemos.



É um belo local com uma simpática construção. Poderia ser valorizada e disponibilizada à população, ao menos para os estudantes. As trilhas poderiam ser incrementadas, sinalizadas. Quem já andou por elas, diz que depois de um ponto ela vira um carrerro no meio do mato.
 Aqui vemos a sombra do mirante.
O calçamento é feito com paralepípedos, onde há um desenho sinalizando os pontos cardeais. Aqui podemos ver o sol se pondo à oeste e nós saindo pelo norte...
Foi muito legal e inusitado. Estávamos sós no local. O vigia deu uma passada por longe para ver quem estava ali e deixou-nos.
Afinal, que critério maluco é esse de deixar a população que mora ali + seus parentes e conhecidos entrarem quando quiserem, inclusive caminharem pela trilha (local de proteção, pois só há mato, não tem piso ou grades ) e os demais brasileiros serem impedidos de visitar o local ?
Fiquei indignado !!!

Raízes (não as vegetais...)

Penso que por detrás de afinidades, existem motivos sabidos e ignorados que o levam a ter certas preferências. Eu, por exemplo, nasci numa fazenda, onde morei até aos 4 anos, indo morar em pequena cidade do interior do Paraná.  A cafeicultura estava em queda e meu pai foi tentar o mercado de trabalho na city.
Quando eu tinha cerca de oito anos, morava a 4km do sítio onde moravam alguns parentes, principalmente minha avó paterna.
Ali, embora em fase adiantada de decadência, tinha uma bela casa de material, herança da cafeicultura praticada pela família do meu pai. Houve uma época que a água era encanada com canos de metal, isso nos anos 50... lá no 'matão'.
Mesmo morando na cidade, eu, com menos de 10 anos ia só para o sítio. Com uma chinela havaiana, shorts e camisa.  Sem mochila; não existia salgadinhos e nem barras de cereais...
Não havia telefone para programar a visita e lembro que uma vez tive que recorrer aos meus tios que viviam perto dali, pois não havia uma viva alma no sítio onde eu fui passar o final de semana. Foram gentis comigo e hospedaram-me.
Nasci ali naquele bairro chamado "Água Feia", município de Jacarezinho, estado do Paraná. Creio que o nome do local deriva do córrego com pouca água, local onde brincávamos muito. Como a água era pouca, dávamos um jeito e represávamos formando uma pequena piscina. Ali, quando conseguíamos cobrir o corpo deitado já era um grande feito.

A casa onde nasci e que mais tarde foi ocupada por um irmão do meu pai, o tio Dalilo e sua esposa a tia Benedita. Dos filhos (meus primos), também moram em Curitiba, o Hugo e a Miriam.
Na foto meu pai segura a uma mula (alguns perguntarão o que é isso, pois só conhecem o cavalo...)  É o cruzamento de égua com burrico (jumento). A mula é um animal forte e usada antigamente para puxar carroça, arado.
Essa chamada Bolívia, meu pai diz que ela era única na região. Ela obedecia ao comando de voz, enquanto que as outras só com as rédeas. Além disso era muito forte; aguentava 30 sacos de café, cada um com 60 kg, o que dá uma carga de 1,8 tonelada. Ela conseguia puxar com muito esforço, mas conseguia.
Meu pai conta que o governo fornecia (emprestava) o jumento e que ele poderia cruzar somente duas vezes na semana, senão... acho que ficaria muito fraco !

Onde a mula está, pode-se ver que existe um calçamento. Esse local era chamado  terreiro de secar café. Já que na fazenda a economia estava baseada no plantio de café. À esquerda da foto existia um tanque para a lavagem dos grãos e em seguida era esparramado nesse terreiro. Era algo bonito de ver. Eles passavam um rastelo sem dente, parecido com um rodinho, mas bem mais largo que servia para mexer e aplainar os grãos.
Ao lado também existia uma "Tuia", que nada mais é do que um depósito de grãos (café, milho ou feijão).  Eu amava subir nos montes de milho. A sensação era mil vezes melhor do que as crianças tem hoje na  piscina de bolinhas.
Eu montei nele pelo menos uma vez... dava medo !
Fumaça era um Touro fornecido pelo governo federal, para melhorar o rebanho brasileiro. Era da raça ZebuGir (já era uma cruza).
Em noites de lua cheia, eles (os bovinos) dormiam próximo da casa.
Como não havia televisão e o rádio funcionava às vezes, saíamos a andar apreciando o luar.
E eu deitava sobre ele... e recostado ali sentia algo muito especial que uma criança guarda para sempre. A interação com o mundo animal.
Muitas histórias para contar desse tempo na Água feia. Esse meu tio que aparece na foto, ainda mora lá próximo. Virou um ermitão .
Assim, as raízes foram crescendo dentro de mim a tal ponto de que com 58 anos, eu amo morar onde estou: próximo da natureza.
Plantando, cuidando, preservando, renovando, vivendo !!!
Quem vive só no 'urbano' fica alheio a muitos detalhes da natureza que Deus nos deu. Mas, também entendo que essas são as raízes dessas pessoas e que sejam felizes onde estiverem.